Tartarugas até lá embaixo

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Imagina só como é realmente estar presa na própria cabeça, sem ter como sair, sem ter nem um minuto de descanso. Porque essa é a minha vida.

A história de Tartarugas até lá embaixo acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto lida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).O Setembro Amarelo, como já mencionei brevemente em outro post, é um período bastante pessoal para mim. Quando pensei em escrever sobre algum livro que retratasse esse período, a escolha foi bem direta. Em geral, livros que abordam de alguma forma transtornos mentais costumam cometer o que eu considero dois erros: romantizar o transtorno, tornando-o quase algo legal, descolado e também retratar somente a parte sombria de conviver com isso, resumindo o personagem ao seus transtorno.Tartarugas até lá embaixo, porém, não segue por essa linha e isso me cativou. Sim, Aza lida com o TOC e é muito difícil, mas ela não se resume a isso.Para mim, o melhor desse livro é a forma como Green nos coloca dentro da cabeça de seus personagens.

Curiosamente, meu primeiro contato com ele foi durante um período bem complicado da minha própria luta contra um transtorno mental e eu me sentia bastante incompreendida e até mesmo sozinha. Ter esse contato tão profundo com Aza fez com que eu me identificasse extremamente com ela, era como se a personagem estivesse dentro de mim, traduzindo os meus pensamentos e, para alguém certa de que ninguém mais no mundo poderia compreender o que estava acontecendo consigo, foi muito bom ter esse “reconhecimento”.

Temos aqui mais uma menina corajosa e ousada, diferente do mundo ao seu redor, e que acaba indo em direção a um garoto que é completamente diferente de si – confesso que vejo muito das Manic Pixie Dream Girls nas garotas de Green e isso é algo que me incomoda bastante às vezes. Daí nasce uma relação de amizade e confiança que, claro, tem como pano de fundo um grande mistério cujo os personagens são conduzidos a desvendar.

Com momentos intensos e dramáticos, Tartarugas é um clássico John Green: você se angustia, você fica curioso para descobrir o que acontece – aliás, ele sabe como ninguém fazer com que a aventura de uma dupla de adolescentes se torne a coisa mais instigante do mundo – você se emociona e você torce. É um pouco diferente na linguagem, talvez por contar com traços tão pessoais do autor, e por vezes fica um pouco cansativo, mas é um daqueles livros que, para mim, você lê e guarda no coração.

Devo alertar, porém, que ele não é uma boa escolha se você está no começo de algum tratamento ou em uma fase mais aguda de transtorno mental. Alguns trechos do livro podem servir como gatilho e a leitura pode não ser saudável (logo que comecei, precisei interromper a leitura justamente por estar em um período vulnerável e me identificar muito com a personagem). Cuidados à parte, é uma maneira de conseguir entender um pouco a mente de quem precisa lidar com uma batalha constante contra sua própria mente e traz uma visão sobre como é estar do outro lado.

Lembrando que a empatia com quem lida com esse problema e a prevenção/apoio não deve acontecer apenas em setembro! O livro mostra como é importante ter alguém ao seu lado, que ajude nos momentos de crise e sem julgar.

Espero que vocês gostem.

Boa leitura!

Título: Tartarugas até lá embaixo

Autor: John Green

Editora: Intrínseca

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