Dia dos Avós e um baú de memórias

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Dia dos Avós | Serendipitys

Por Gisele Ramalho

O tão esperado domingo havia chegado e eu, no auge dos meus seis anos de idade, já tinha adotado a prática do “Café na Vovó”. Caminhávamos até a rua da frente, – para correr logo no virar da esquina – e, paradas em frente ao portão, começava a disputa para alcançar a campainha.

Duas meninas serelepes que não poderiam perder tempo quando se tratava da casa dos avós. Mamãe estava grávida, e por isso se negava aos nossos passos frenéticos. Minha irmã – por mais reservada que fosse – se contagiava com a minha loucura e, pulando sempre mais alto, alcançava o botão que alarmava o primeiro “ding-dong”. Apenas um som e toda a minha emoção transbordava!

Em seguida, vinha a melhor sequência de ações que se poderia imaginar. Olhávamos pela fresta do portão, e lá estava a cena se transformando cada vez mais: Totó latia e corria pelo quintal, o barulho do antigo molho de chaves o fazia levantar as orelhas alcançando novos limites (conforme o tilintar); a porta emperrava no meio do caminho e logo meu avô xingava: “Essa porta velha viu!”.

Dia dos Avós | SerendipitysO arrastar de seus chinelos é algo que minha memória resolveu eternizar. Ah! Como eu gostava de calçá-los, a fim de tentar reproduzir aquele som. Logo se via o portão abrindo, o cachorro abanando o rabo, e o sorriso lateral que só vovô conseguia fazer. Pedíamos a benção e o cumprimentávamos, assim como a boa educação que recebemos. Logo eu desembestava a pular e correr para a porta velha, e caçava minha avó pelos cômodos adentro. Onde ela estaria?

No quarto com a gata? No quintal dos fundos? No banheiro? Na máquina de costura? “Ah! Eu achei a vó!”. Lá estava, beirando a boca do fogão, colocando uma colherada de pó de café no bule amassadinho que ela tanto gostava. E nos recebia com seus olhos de jabuticaba, protegidos pelo grande par de óculos; o lenço na cabeça, a saia ligeiramente torta, e o avental manchadinho com sua gastronomia. Então ela apontava para a porta do forno: o bolo estava terminando de assar.

 Logo apareceriam meus primos, e a brincadeira poderia começar. Aquele casal experiente se propunha a nos ensinar diversas formas de diversão, fazendo bom uso da criatividade e imaginação. De repente o quintal virava uma floresta e meu avô se encarregava do Lobo-Mau; mesmo sem descansar o bolo de fubá – quente – na barriga, corríamos zombando “Quem tem medo do Lobo-Mau…?” e a festa estava feita.

Todos suados, melados, com os pés sujos… Para nós, meros detalhes!

A atividade mudava repentinamente, e nos enfiávamos nos galhos rebeldes do pé de acerola; enchíamos as mãos facilmente, de tão pequenas que eram. Logo vinha minha avó secando uma bacia com a beirada do avental, e a estendia para perdermos as bolinhas avermelhadas.

Quem já se enfiou num pé de acerola, bem sabe a coceira que dá no final. E enquanto a colheita se transformava em suco doce e refrescante, a fila indiana estava no corredor; esperávamos a liberação da mangueira. Mas divertido mesmo era quando vovô nos juntava para, teoricamente, lavar os braços. O que acontecia? Banho de mangueira! E então, mais correria, mais emoção, mais delícias de avós.

Cada dia me recordo de uma dessas tardes, e teria muitas histórias para lhes contar (bonecas de pano, banhos de chuva, piqueniques etc.) ; mas o importante é que hoje é  Dia dos Avós – além de Dia da Vovó- , e é nosso dever saber aproveitá-los ao máximo. O tempo pode nos tirar pessoas, mas não tira as lembranças que nos deixam.

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  • Tania

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    Lindo Gi, me carregou pra casa dos seus avós nessas lembranças lindas.

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