Dentro de uma caixa de metal azul, um pedaço de corda se mantém firme enquanto amarra um bolo de papeis amarelados e desgastados. A caixa estava esquecida em alguma gaveta de uma escrivaninha. Tudo estava esquecido, a caixa, a escrivaninha, o quarto onde estava a escrivaninha e própria casa que abrigava o quarto. Um passado brilhante tinha morrido, assim com as estrelas perdem sua luz ao chegarem ao fim da vida.

As cartas tem o poder de juntar as memórias de uma pessoa, em folhas dobradas dentro de envelopes. Existe uma mágica em encontrar a caixinha de metal azul, abri-la levara o ator da ação para o passado, para uma história que já existiu. Quem recebia uma carta repleta de boas escritas iria ler e reler durante dias, para depois guardar com carinho, caso precisasse ler mais uma vez no futuro.

Ter a chance de receber uma carta pelo correio, chegar aquele envelope fechado, os dedos tateiam as bordas, e a sensação de abri-lo te deixa mais contente, é até possível sentir o relevo do papel dobrado no seu interior. Você quer logo ver o que está no conteúdo, curioso para saber o que o remetente quis dizer. É bem como uma surpresa receber uma carta de alguma pessoa querida, você sabe que ela se dedicou a escrevê-la, ela realmente gastou tempo pensando no texto.

Quando penso que hoje em dia as cartas caíram em desuso, tornaram-se e-mails comuns do dia a dia, que se acumulam na caixa online e são esquecidos. O e-mail transformou a ideia de correspondência em algo banal, poucas pessoas pensam no que escrever antes de enviar e dificilmente cartas de amizade ou amor são enviadas por e-mail. Essas se perdem no meio de mensagens enviadas pelo celular ou pelas redes sociais.

Queria ter a chance de reviver as cartas, incentivar essa pratica substituída pelo digital. Será muito triste o dia em que as pessoas não tiverem cartas para guardar com carinho, e tê-las como lembrança de um passado incrível. Quem sabe o próprio Serendipitys não se torne um ferramenta para reviver a carta?