A magia de Em Algum Lugar nas Estrelas

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“Essa é a questão de estar perdido. Ter liberdade para ir a qualquer lugar, mas não saber onde ficava lugar nenhum.”

Não é preciso muito esforço para reparar em Em Algum Lugar nas Estrelas. O livro, escrito pela norte americana Clare Vanderpool, ganhou uma edição belíssima em capa dura pela Darkside Books que chama a atenção de longe. Porém, a real beleza do livro está em seu conteúdo e na maneira de Clare contar histórias. Inspirado em um sonho da mãe da autora  e na autobiografia de Daniel Tammet, Nascido em um Dia Azul – Por Dentro da Mente de um Autista Extraordinário, a obra narra como dois garotos vivendo conflitos se encontram e, ao partir em uma arriscada aventura, acabam encontrando respostas sobre si mesmos e sobre a vida.

Em Algum Lugar nas Estrelas | Serendipitys

Imagem: Divulgação/Darkside Books

Tudo começa quando, após uma perda trágica, Jack Baker, um introvertido menino de dez anos, é obrigado a se mudar do Kansas para o Maine, onde ficará em um internato militar enquanto seu pai, um capitão da Marinha, se ocupa de suas obrigações em alto mar. Jack, que nunca havia visto o mar, precisa se acostumar com um estilo de vida totalmente diferente do que conhecia, além encontrar novo amigos. O ambiente estranho faz com que ele se sinta pequeno e retraído, mas tudo muda ao conhecer o enigmático Early Aude. Com uma inteligência além do normal, Early frequenta apenas as aulas que quer, vive no local destinado ao zelador do colégio e é cheio de manias e mistérios. Nasce, então, uma improvável amizade e uma jornada em busca de respostas e autoconhecimento.

Quem gosta ou acompanha os contos e obras de Stephen King sabe que o Maine é um de seus locais preferidos para criar histórias. Digo isso porque Em Algum Lugar nas Estrelas tem muito em comum com King e, em especial com um de seus mais famosos contos, Conta Comigo, transformado em filme por Rob Reiner em 1986 e que também serviu de inspiração para a criação de Clare. Trata-se de dois garotos se embrenhando em uma floresta sem deixar nenhum aviso e enfrentando os mais diversos perigos enquanto sofrem um processo de amadurecimento e estreitam laços de amizade. Apesar de um pouco mais novos e ingênuos, Early e Jack poderiam muito bem se unir a Gordie, Chris, Teddy e Vern em suas jornadas.

É difícil falar do livro sem quebrar sua magia. Cada página apresenta ao leitor um novo mistério e momentos que fazem questionar se tudo não passa de uma fantasia dos meninos. Early está em busca de seu irmão, Fisher, ex-estrela da escola que se tornou tenente e foi lutar na Segunda Guerra, época na qual a história se passa, e é dado como morto. O garoto não acredita e começa a preparar uma grande busca por Fisher. É nisso que, meio sem querer, aparece Jack. Um dia ele entra no quarto de Early por engano e ambos começam a conversar. Apesar de achar o jeito do aluno um pouco estranho, vê nele uma figura com a qual pode contar.

Em Algum Lugar nas Estrelas | Serendipitys

Imagem: Divulgação/Darkside Books

Sozinho e decepcionado com o pai, que parece ter se esquecido dele depois de tê-lo deixado no internato, Jackie decide ir junto com Early em busca do Grande Urso Apalache, figura que Early crê que levará ao irmão.Tudo é permeado pela fantástica história de Pi. Aos olhos de Early, os números do pi contam, na verdade, a história de um menino que parte em alto mar em busca do seu nome e serve como mapa para a sua própria jornada. A busca dos garotos é cheia de perigos, desencontros e descobertas. Ao entrar na floresta, eles enfrentam medos, aprendem a lidar um com o outro e conhecem personagens que acabaram por se tornar parte do ambiente que vivem e foram quase esquecido pelo resto das pessoas.

Em Algum Lugar nas Estrelas é fantasioso e com um sabor de esperança. Simples e ao mesmo tempo cheio de pequenos enigmas, ele faz com que nos encantemos por cada um de seus personagens, além de tratar de alguns temas como o autismo com extrema delicadeza. Por mais que seus protagonistas sejam crianças, suas visões do mundo são tão profundas e analíticas que qualquer pessoa se sente tocada. Impossível não se comover com Jack, tentar compreender e se maravilhar por Early e ver naquelas aventuras um quê da própria infância. Trata-se de um livro sobre amizade, a busca por si mesmo e a superação de dificuldades, dosando fantasia e realidade com precisão e deixando a sensação de que fomos envolvidos por algo mágico e superior. Um daqueles livros que embeleza a estante e não por sua capa.

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