Morando fora: sobre solidão e amadurecimento

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Antes de morar fora e vir viver em Bologna, eu nunca havia deixado a casa dos meus pais. Convivia diariamente com mais três pessoas – meus pais e meu irmão mais novo – e estava confortável em, apesar de precisar dos meus momentos de exclusão e solidão (introvertidos, oi!), ter sempre alguém por perto. De maneira lógica, esse foi o medo que mais se manifestou quando a viagem se aproximou. Será que eu conseguiria me virar sozinha? Como eu lidaria com a ansiedade sem ter ninguém por perto? O que fazer com os meus terrores noturnos quando eu estivesse sem a minha mãe do outro lado do corredor para me ajudar?

Esses questionamentos podem até parecer imaturos, mas eu não me envergonho nem um pouco deles. Morar com a minha família era a minha zona de conforto. Tudo na minha cidade era, na verdade. E isso me assustava. A ideia de pensar que eu estaria tão longe, sem conhecer ninguém e tendo a barreira da língua no meio do caminho me fazia questionar se essa havia sido uma boa escolha. Posso adiantar que, sim, foi. Não foi fácil, mas foi essencial e sou grata por ter a chance de viver isso.

A gente nunca pensa realmente sobre o que é estar ou se sentir sozinho até que isso acontece. Claro que com o passar do tempo eu conheci pessoas e fiz amizades e aquele aperto no peito foi amenizando, mas esse é o grande truque do estar sozinho: você não sente isso o tempo todo e não sabe quando sentirá de novo. Em geral, a sensação da solidão e aquele pensamento do “o que eu estou fazendo aqui mesmo?” vêm quando você menos espera e está se sentindo mais vulnerável.

Antes de vir, eu acreditava que já era madura o suficiente, afinal, sou uma mulher adulta e muitas pessoas com a minha idade já tem até mesmo uma família própria para cuidar. Talvez o mais difícil foi perceber o quão enganada eu estava e ter que lidar com isso. Ter que admitir que partes de mim ainda se sentiam frágeis e que tudo isso havia sido um passo maior do que as minhas pernas podiam dar. Esses momentos acontecem com força total no começo, depois melhoram, mas sempre voltam para te testar. E, sabe, que bom!

Li outro dia que amadurecer não é um caminho fácil e não tem atalhos. É preciso ser doloroso e difícil e você precisa lidar com isso. Na maioria das vezes, como eu percebi, sozinho. Mas eu também entendi que estar sozinha não é ruim e que tem o seu lado importante também. Assim como se sentir vulnerável e chorar também não. Vivemos nesse mundo em que você precisa demonstrar força o tempo todo e não se abalar. Mas o que é ser forte, afinal? Engolir as suas emoções e construir uma fachada dura me parece exatamente o oposto disso.

Morar fora – seja em outra cidade, outro estado, outro país ou até mesmo em outra casa – faz com que a gente se depare com as situações que costumamos evitar e os medos que costumamos negar sem ter necessariamente o reforço de quem te faz sentir seguro. É ruim sim, não nego. Muitas vezes me peguei desejando voltar para casa antes ou ter a minha mãe comigo, mas isso passa. Aos poucos, você aprende a lidar com o momento e, principalmente, consigo mesmo.

De vez em quando a solidão vai te apertar e te sufocar. Você vai querer fugir ou chorar. Mas ela não dura para sempre e você se sente um pouco mais resiliente cada vez que ela passa. Amadurecer é difícil, complexo, mas é também uma experiência linda de autoconhecimento. De aprender a ser você próprio seu porto seguro e lidar com o que você nem imaginava ser capaz de lidar.

Nem sempre estar aqui é alegre, divertido e com novidades. Mas também nem sempre é solitário. Como tudo na vida, é um balanço. Por vezes pendendo mais para um lado do que para o outro, porém, de algum jeito, te fazendo ir em frente.

 

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