Não só setembro deve ser amarelo

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É comum vermos meses ganhando cores em sinal de conscientização sobre algo. Um dos mais famosos, outubro ganhou tons de rosa para lembrar a importância de se prevenir o câncer de mama. Novembro por sua vez virou azul em prol do lembrete de que é preciso tomar cuidado com o câncer de próstata. O mesmo ocorreu com setembro. Desde de 2015, o Centro de Valorização da Vida (CVV), juntamente ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), aproveita a comemoração do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que acontece no dia 10 do mesmo mês, para celebrar o Setembro Amarelo.

Estima-se que ao menos 32 brasileiros morram por dia desta forma, sendo o oitavo país com maior número de casos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) essa epidemia silenciosa mata cerca de 800 mil pessoas por ano mundialmente. A liderança desse triste posto fica por conta da índia, com 258 mil casos, seguida pela China com 120 mil, logo, uma campanha como a do Setembro Amarelo é mais do que importante, é necessária. No entanto, é preciso que a conscientização e também a postura perante essa situação se prolongue ao longo do ano e não apenas em um único mês.

Durante a campanha, é fácil pensarmos que temas como suicídio e depressão – fator que mais contribui para o suicídio – são tratados da maneira como deveriam durante todo ano: como uma questão de saúde que necessita de tanta atenção quanto qualquer outra doença e cujos pacientes precisam de apoio e compreensão. Porém, não é bem assim que funciona. Ao longo desse mês, parecemos mais empáticos, dispostos a compreender e realmente ajudar, no entanto, muitas vezes tal postura é abandonada uma vez terminada a época amarela do ano.

Ainda existe um estigma muito grande em torno da saúde mental. Ainda ouvimos, após casos de suicídio por exemplo, que aquela pessoa é fraca ou egoísta. Vemos também muita culpa recair sobre a família ou as pessoas que conviviam com quem morreu dessa forma. Quando o tema é depressão, então, não faltam dedos para apontar ou críticas a se ouvir. Mesmo existindo uma campanha com tal proporção no Brasil, ainda não levamos esse assunto tão a sério quanto deveria e precisamos, urgentemente.

Um olhar mais pessoal

Entro aqui com um depoimento bastante pessoal, mas que talvez possa ajudar outras pessoas. A depressão sempre esteve muito próxima de mim, do meu convívio, e o suicídio também. Ainda assim, mesmo tendo visto pessoas amadas adoecerem dessa forma, por muito tempo mantive os mesmos pensamentos que citei acima. É fácil julgarmos e criticarmos algo que não conhecemos. Eu precisei de um longo caminho para compreender a complexidade de uma doença como a depressão e também para me desprender de diversos preconceitos. Ainda assim, estou em um processo constante de estudo e aprendizado sobre o tema.

No decorrer da minha própria jornada, fiz inúmeras descobertas, as quais ainda pretendo escrever sobre, mas uma delas foi essencial: a minha ignorância, os meus julgamentos e a minha raiva não trariam nada. Nem melhora, nem ajuda e nem o que eu considerava “normal” de volta. Brigar, ironizar ou desmerecer aquela situação não fazia com que ela sumisse, apenas a tornava mais difícil e muito mais dolorosa. Eu esperava mudanças sem que eu própria mudasse.

Não é um caminho fácil a se percorrer. Nem para quem está sofrendo e nem para quem convive. É complicado combater um inimigo invisível, que você não compreende muito bem como funciona e não sabe quais passos irá dar a seguir. A princípio, e digo isso de uma forma extremamente pessoal, lidar com a depressão é como tatear no escuro. Você tenta se apoiar, vai buscando amparo e confia nas paredes que já encontrou. E nessa hora, mais do que a medicação ou do acompanhamento psicológico/psiquiátrico – que são fundamentais – o amparo é o que mais conta. Encontrar conforto e tornar-se conforto é o que mais conta.

Não é fácil para mim falar sobre esse tema. Por estar tão enraizada na minha essência, lidar com o assunto é quase como ir até embaixo da cama e puxar o bicho-papão pelo pé para um bate-papo. No entanto, sinto que abrir um pouquinho dessa questão é essencial para mostrar aquilo que dá título a esse texto: não dá para só setembro ser amarelo. Não dá para se preocupar com suicídio, depressão e saúde mental apenas em um mês do ano e, principalmente, não dá para ter uma empatia datada.

Se você, assim como eu, tem ressalvas, preconceitos ou dúvidas sobre esses assuntos, pesquise. Busque profissionais e projetos que lidam com esses temas e se aprofunde. Faça o velho exercício do “calçar o sapato do outro”. Lidar com uma doença, qualquer uma que seja, não é fácil, imagine então lutar contra isso tendo, além da sua própria, várias vozes dizendo coisas negativas a seu respeito ou dando a entender que a sua doença é inferior, “não existe”, “é frescura”.

Setembro Amarelo é apenas um mês para reforçar algo que deveríamos discutir diariamente. Não deixe essa mensagem existir somente em um período do ano.

Caso você sinta que precisa de ajuda, o CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente todos os dias 24 horas por dia via telefone, email, chat e voip. Basta ligar no 188 para maiores informações.

Você não está sozinho!

 

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