O longo (e constante) caminho para aceitar a mim mesma

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Autoestima é uma coisa curiosa. Leva anos, por vezes uma vida inteira, para se solidificar e, se bobear, um comentário a faz ruir e você se vê tendo que recomeçar essa reconciliação consigo mesma outra vez. Mais uma vez.

Desde que tive consciência de mim mesma como indivíduo cujas características físicas seriam observadas, analisadas e julgadas, caminho por uma longa e difícil estrada de autoaceitação. Digo quando “tive consciência” porque até provavelmente os meus dez anos eu não me importava muito com essa questão. Gostava de mim. Plena e completamente. Na minha cabeça, eu era um ser humano… Normal. E o tal normal (vai saber o que na minha mente infantil ele significava) estava pra lá de bom. Porém, dificilmente continuamos com essa visão tão pura e inocente de nós. Ao entrar na adolescência, percebi que eu não me adequava a certas “expectativas”.

Aos onze anos, eu levei um pacote do “tudo que você não pode ter se quiser ser considerada atraente ou bonitinha nos anos dois mil e bolinha” para casa: óculos e aparelho. Os meus cabelos também não tinham lá muito padrão e, até certo ponto da minha vida, eu era só bochechas. Meu corpo nunca foi o “corpo da mulher brasileira” e ele demorou mais tempo do que a puberdade para se desenvolver completamente. Pouco a pouco, o “normal” foi deixando de ser a percepção que eu tinha de mim e eu passei a querer me esconder.

Lentamente, as vozes até então internas ganharam vida por meio de outras pessoas. Eu perdi as contas de quantas vezes alguém riu de mim pela minha aparência, minhas roupas ou meu modo de ser desengonçado. Ou por eu, aos 14 anos, ainda ter um jeito mais menina do que mulher. As piadas, os apelidos pouco a pouco ajudaram a solidificar uma visão de mim que eu já alimentava. Eu havia deixado o que vinha de fora me atingir e me fazer acreditar que eu não era suficiente.

Foi então que eu comecei a tentar me ajustar. Mudanças aqui e ali, uma tentativa de ser algo que eu não era. Só que eu ainda não importava o quanto eu me maquiasse ou mudasse o meu cabelo e as minhas roupas, eu ainda não era suficiente. Depois de tentar me transformar, lembro de querer me “invisibilizar”. Quanto menos notada, melhor.

Lembro de olhar fotografias minhas com um misto de tristeza, raiva e desprezo. Foi somente anos depois que eu pude vê-las e enxergar a minha beleza nelas. Demorou muitos anos para eu me aceitar. Foi um processo lento, que se construi aos poucos lendo e ouvindo meninas que sentiam como eu. Vendo mulheres com um tipo de corpo/jeito parecido com o meu e com as quais eu me identificava na televisão ou no cinema sendo consideradas bonitas e pensar “se elas são, por que eu não?”.

Demorou tempo de mais. Eu perdi anos acreditando que era inferior, sentindo raiva de mim e me menosprezando. Anos em que eu podia simplesmente ter amado a mim mesma e aceitado quem eu era. Mas não é fácil. E nem simples. Somos ensinadas – até mesmo por nossos brinquedos – desde pequenas que existe um exemplo a ser atingido. Um modelo do que é belo e do que é banal. Somos também incentivadas a diminuir e atacar outras garotas para que isso nos torne melhores do que elas. Para que sejamos a “amiga bonita”, a “menina mais linda da sala”, a que “chama atenção”.

Temas como diversidade, representatividade e quebra de padrões estão muito em pauta agora – ainda bem! – mas ainda não é o bastante. Ainda assim, meninas arriscam a vida em cirurgias complexas para serem consideradas belas. Meninas se camuflam e se escondem para se igualarem ao que é tido como ideal. Já demos muitos passos desde os meus onze anos, mas ainda faltam tantos outros mais.

Esse processo para aceitar a si mesma e se abraçar com todas as imperfeições e maravilhas que se tem é difícil, longo, por vezes, doloroso e, ao meu ver, constante. Encarar o espelho com amor e não desprezo depois de passar tantos anos aprendendo a repudiar o que se vê não é fácil. E anos de vozes erradas – interiores e exteriores – não se calam do dia para a noite.

Hoje penso na menina que fui e vejo como eu deveria ter me amado mais. Mas eu não sabia. Eu precisei aprender. E, de vez em quando, preciso reafirmar isso. De vez em quando, tropeço e volto a acreditar em tudo aquilo que erroneamente pensava sobre mim. Como eu disse, é um processo constante.

Sei como outras meninas passaram por situações mais difíceis e duras que as minhas. Sei que muitas lidam com questões que eu nem sequer posso imaginar. Não sou ninguém para dizer “ame seu corpo, menina” e eu sei que não se trata de algo tão simples. A sociedade, por mais que debata uma questão, ainda pode ser muito cruel e lutar contra pode parecer impossível. Mas não é! E você não está sozinha.

Celebre quem você é, não se deixe levar. Eu levei um tempo para aprender que beleza não tem padrão, não tem rascunho e está em todas nós. Redescubro a mim mesma todos os dias e em cada um deles eu preciso relembrar que, não importa se alguma vozinha ainda sobrevive, ela está errada.

Eu não te conheço, mas sei que você é linda. Do jeitinho que é. Espero que você também consiga se libertar e enxergar! 🙂

 

Imagem de capa: Pixabay

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