Pax

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Peter e sua raposa são inseparáveis desde que ele a resgatou, órfã, ainda filhote. Um dia, o inimaginável acontece: o pai do menino vai servir na guerra, e o obriga a devolver Pax à natureza. Ao chegar à distante casa do avô, onde passará a morar, Peter reconhece que não está onde deveria: seu verdadeiro lugar é ao lado de Pax. Movido por amor, lealdade e culpa, ele parte em uma jornada solitária de quase quinhentos quilômetros para reencontrar sua raposa, apesar da guerra que se aproxima. Enquanto isso, mesmo sem desistir de esperar por seu menino, Pax embarca em suas próprias aventuras e descobertas.
Alternando perspectivas para mostrar os caminhos paralelos dos dois personagens centrais, Pax expõe o desenvolvimento do menino em sua tentativa de enfrentar a ferocidade herdada pelo pai, enquanto a raposa, domesticada, segue o caminho contrário, de explorar sua natureza selvagem.

À primeira vista, ao se deparar com Pax, podemos pensar que é um livro voltado apenas ao público juvenil, sem grandes atrativos para os adultos. Confesso que o comprei muito por conta de sua capa. Dura e emborrachada, linda. Mas, depois de alguns meses esquecido na minha estante, eu finalmente o li e sinto que tenho a obrigação de passar sua história adiante.

Desde o princípio, fica claro que essa é uma história narrada sob duas perspectivas: a do menino, Peter, e a da raposa, Pax. Porém, a forma como essas narrativas vão se costurando é tão fluida que chega um momento em que sentimos as duas exatamente como acontecem, em paralelo. Mesmo distantes, Pax e Peter são um só e a leitura torna esse fator da amizade ainda mais vívido.

Algo que me cativou muito foi a forma como Sara Pennypacker escreveu a ótica das raposas. De um modo crível, sábio e instigante, Pax e seu grupo em alguns momentos chegam a parecer criaturas místicas, de uma inteligência muito superior (e quem disse que não são?) e com uma visão em relação ao mundo muito mais desenvolvida. A forma como os animais se comunicam e a floresta ganha vida é uma das grandes mágicas do livro. Quando acompanhamos a história de Pax nos sentimos como ele, enxergamos através de seus olhos e nos tornamos um pouco raposas também.

O livro, claro, aborda principalmente a amizade, mas, apesar de ser seu ponto de partida, não o define ou limita. A obra é muito sobre a sensação de estar fadado a ser ou se comportar de determinada maneira somente porque assim foram os membros da sua família, é também sobre o vazio e a insensatez que é uma guerra e, o mais interessante e pouco pensado sobre nós, a forma como ela afeta outras formas de vida. Pennypacker ainda escreve sobre autoconhecimento e perdoar a si mesmo, além da descoberta de forças interiores e até onde se vai por amor.

Pax é uma daquelas leituras que vai te conquistando mais a cada página, que faz você sentir empatia e raiva, tristeza e compaixão, alegria e medo. Ela faz você questionar o comportamento da humanidade diante de si mesma e também dos animais e mostra o poder de uma grande amizade. Ilustrado por Jon Klassen, o livro conta com belas figuras que completam a sensação agridoce deixada pela história.

Cometi o crime literário de julgar um livro pela capa, porém, posso dizer que dei muita sorte. Pax é muito mais do que uma capa bonita, é uma história que acalenta e que questiona. Longe de ser feito para um público só, é uma obra para todas as idades e todos os tempo. E que dificilmente você termina sem guardar (ou grifar, no meu caso rs) algumas frases para depois.

Boa leitura!

Título: Pax

Autor: Sara Pennypacker

Editora: Intrínseca

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