Gastronomia e literatura: a receita de uma obra deliciosa

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Uma mulher jovem demais para vivenciar a tristeza de ser viúva, sua paixão pela gastronomia e um grupo de solteiros sem a menor aptidão para a cozinha. Esses são os principais ingredientes de Angelina – O amor é o melhor tempero, do escritor norte americano Brian O’Reilly. Com a ajuda de sua esposa, Virginia O’Reilly, Brian traz ao leitor, além de uma linda história de superação e perseverança, um semi livro de receitas. Angelina consegue cativar o leitor na mesma proporção em que o faz querer provar – ou até mesmo cozinhar – seus deliciosos pratos. Com pouco mais que 350 páginas, esse é um daqueles livros em que o leitor literalmente devora a obra em questão de dias – com o perdão do trocadilho.

Após a repentina morte de seu marido, Angelina vê tudo o que ela conhecia desaparecer de um dia para o outro. Desempregada e viúva, logo começam a chegar mais e mais contas e, em meio à tristeza, ela redescobre uma antiga paixão há muito abandonada: a gastronomia. Ela começa a distribuir seus pratos pela vizinhança e faz disso um pequeno negócio. Aos poucos, os solteiros do bairro passam a adotar a casa de Angelina como restaurante e ponto de encontro e o que era um meio breve para se sustentar, acaba se tornando uma nova família para Angelina. Lentamente, mais vizinhos vão chegando e se juntando ao grupo e novos relacionamentos surgem, dando um novo rumo à Angelina e a todos os envolvidos.

Essa obra conseguiu um efeito sobre mim que pouquíssimas outras haviam conseguido: a sensação de estar na cena literalmente. Isso acontece durante todo o livro – que, por sinal, é bastante detalhado nas descrições, mas de uma maneira que não cansa –, mas fica ainda mais forte nos momentos em que Angelina está preparando alguma receita, Brian descreve os alimentos de tal maneira que você sente como se eles estivessem diante de você, esperando para serem degustados. A descrição é tão bem elaborada que, inclusive, dá vontade de se arriscar pela cozinha também.

Comidas à parte, a história em si já valeria o livro. A forma como os personagens vão se entrosando ao longo da narrativa é cativante, e o mais interessante é que, apesar de Angelina ser a personagem principal, todos os outros personagens recebem atenção e suas histórias vão, aos poucos, sendo reveladas para o público. Tem, por exemplo, Guy, o gentil e indeciso rapaz que não sabe se vira padre ou começa outra carreira; Basil, que decide conhecer as coisas boas da vida após se aposentar; Jerry, que tem medo de se apaixonar, mas mesmo assim acaba se envolvendo, além de todo o resto da vizinhança que acaba fazendo parte dessa história de alguma forma.

A maneira como o “grupo dos solteiros” vai se construindo e o jeito que Angelina encontra para reconstruir sua vida através de uma antiga paixão – a gastronomia – são o fio condutor para essa história que conta com personagens que poderiam ser nossos vizinhos, familiares ou amigos. O melhor de Angelina, aliás, é o fato de que conseguimos nos identificar com os personagens logo no início, pois todos têm problemas e questionamentos que acontecem na vida real e que poderiam ser nossos. Ao final do livro, aliás, nos sentimos parte da história.

Angelina conta ainda com um índice de receitas para, caso você queira tentar uma em particular, não precisar vasculhar o livro inteiro, além de uma conversa bem descontraída com o próprio Brian, onde ele revela como foi o processo para escrever o livro, como a esposa o ajudou, por que aquelas receitas foram as escolhidas e muito mais. Sabe aquele livro que quando termina dá uma tristeza por ter acabado? Angelina é um desses. Delicioso, sensível, divertido e dinâmico, ele com certeza merece estar na sua estante.

 

Título: Angelina – o amor é o melhor tempero

Autor: Brian O’ Reilly

Editora: Companhia Editora Nacional

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