Sobre se arriscar e o “pedi demissão e viajei” na vida real

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Ao longo de 2015 eu passei por uma série de questionamentos pessoais. Perguntei para mim mesma o que estava fazendo com a minha vida e busquei maneiras de me sentir realizada, principalmente no âmbito profissional. Eu me encontrava na situação que muitas pessoas têm se encontrado atualmente: estava em um emprego que não me fazia feliz e não conseguia decidir o que fazer a respeito disso. Eu estava trabalhando pela necessidade e, em meio a isso, pensava se aquela seria a minha vida a longo prazo. Eu não estava certa se a questão se resumia a mudar de emprego, mudar de área ou ter uma mudança mais radical na minha vida como um todo, mas queria mudar.

Em dezembro, durante o meu período de férias, confrontei isso por diversas vezes e tomei a decisão de abrir mão do lugar que eu estava. Decidi buscar algo que me fizesse sentir realizada e com maiores perspectivas e, assim, ao voltar do meu recesso, informei a minha chefe que sairia da empresa. Sim, eu pedi demissão em meio a uma crise econômica e sabia dos riscos que estava assumindo. Muitas pessoas consideraram loucura o que eu fiz, mas eu tinha certeza de que, apesar de difícil, seria a decisão certa para mim. A tomei e não me arrependo. Eu estava infeliz, insatisfeita e quis me arriscar.  E, assim, em fevereiro, pouco depois do carnaval, eu estava desempregada.

Antes de continuar esse texto, devo dizer que, ao contrário do que geralmente ouvimos, não é simples abrir mão de algumas coisas. A premissa do ”pedi demissão e viajei o mundo” é maravilhosa, mas por vezes carece de realidade. Eu sei porque, de uma maneira ou de outra, segui esse caminho e sei que ele não é tão bonito e simples como as fotografias nos mostram. Sei também que grande parte das pessoas não têm a possibilidade de fazer o que eu fiz, que às vezes é preciso abraçar o que se tem mesmo quando não é exatamente o que você precisa simplesmente porque há a necessidade. Eu tomei uma decisão baseada na minha vida, nas minhas possibilidades e agradeço por ter podido tomá-la.

Se demitir, com ou sem um plano B, não é fácil. Por mais que surjam ideias e vontades ao longo do caminho, nunca é fácil. Você precisa se desapegar de uma série de rotinas e certezas e encarar uma vida sem rascunho. Se há o alívio por estar livre para buscar o que queremos, há também preocupações e medos. Sair do emprego não me fez sentir segurança, trouxe ainda mais questionamentos e me fez repensar uma série de coisas.

Algum tempo depois, no final de março, tive a oportunidade de viajar. Fui para a Bélgica visitar uma amiga. Eu nunca havia saído do Brasil e, contando apenas com o dinheiro que eu havia economizado ao longo dos anos, sabia que poderia ser arriscado viajar nesse momento. Porém, abracei a chance. Acreditei que seria uma boa experiência e que, apesar de economicamente parecer loucura, era uma chance que poderia não se repetir tão cedo. Então, no dia 4 de abril, eu parti para a minha viagem. Fiquei aproximadamente um mês fora. Não, eu não estudei e também não trabalhei na Bélgica no período em que estive lá. Mas ganhei coisas que não teria ganhado se tivesse permanecido no meu trabalho ou em casa. É verdade que uma viagem muda a sua visão de mundo e faz com que você amadureça. Em muitos aspectos, eu cresci mais nesse mês fora do que o ano todo no Brasil. Eu saí da minha zona de conforto, enfrentei alguns medos  e mudei de diferentes maneiras. No entanto, é preciso sinceridade: depois do passo 1, se demitir, e do passo 2, viajar, as coisas não se resolvem e avida não vira um mar de rosas.

Eu aprendi, amadureci e comprovei como viajar pode te ajudar de diferentes maneiras, mas a realidade ainda precisa ser enfrentada. Eu voltei e continuo desempregada. Já cumpri, à minha maneira, a premissa de conhecer outro lugar para tentar me encontrar. Só que, o que esquecem de nos dizer, é que não importa aonde você esteja, se a mudança não acontecer internamente não há viagem no mundo que coloque a sua vida no rumo que você deseja. Sim, pedi demissão e viajei. Como disse, aprendi e amadureci, mas não me resolvi. Talvez eu nunca me resolva, vai saber. Agora estou encarando a parte II desse desafio que acabou se tornando 2016: não tenho mais emprego, a viagem em busca de uma revelação interior já aconteceu e eu preciso encarar esse novo rascunho que se apresentou. Eu voltei e dessa vez todos os planos – e boa parte do meu dinheiro – se esgotaram. Depois de me demitir e sair, preciso encarar um novo ângulo e fazer algo a respeito dele.

Ainda não sei o que farei. Se será uma nova faculdade, uma pós-graduação ou um emprego em algo que não tenha nada a ver com a minha formação. Pedir demissão e viajar não resolveu os meus problemas e definitivamente não trouxe uma solução mágica. Mas, sabe, não é para ser mágico. É para te ajudar, te renovar e, então, seguir em frente. Se você puder, se estiver ao seu alcance, faça isso. Mudar de ares sempre é bom e a vida pede uma atitude radical vez ou outra. Mas vá com o pé no chão, com a certeza que todas essas decisões ajudam, mas que a vida segue e que a transformação real pede mais do que sair de um emprego e conhecer um novo lugar. Isso é um passo, talvez o primeiro, mas é preciso muito mais passos para se reconstruir.

Boa sorte, então, na nossa caminhada!

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