Por Júlia Ramos
Entro no ônibus de sempre. Digo oi ao motorista que nunca havia visto e ao cobrador de sempre. Sento-me em frente a dois garotos, de 10 anos, que nunca havia encontrado antes.
Percebo que eles se animam por observar pela janela a Avenida Paulista. Estão ansiosos e fazem barulhos coordenados com a boca.
Um vira para o outro e diz:
– João! O que é aquilo ali? – pergunta o mais agitado
– Não sei não – responde o outro sem dar muita atenção
Passam alguns segundos e o que perguntou fica nervoso com o trânsito que não anda e tenta retomar a conversa:
– Deve ser manifestação, eles falam que tem sempre manifestação aqui…
O ônibus volta a andar, próximo ao MASP há uma manifestação a favor do direito dos índios, com pessoas pintadas.
– Viu só, é manifestação mesmo!
De repente, passamos por algo que, novamente, chama a atenção dele.
– João e aqui é o que?
– JUS-TI-ÇA FE-DE-RAL … é a polícia – responde ele somando as sílabas em voz alta
– Ihhh…
Mas o menino não se aquieta, quer absorver tudo, saber nomes, conhecer lugares e entender um pouco daquelas pessoas andando de um lado para o outro.
– A Avenida Paulista só tem prédio, né? Nenhuma casinha, vixe..
Olho para trás e me intrometo
– Tem uma ali, ó! – aponto para um dos últimos casarões da Avenida, antes repleta deles.
Os olhos dele se arregalam.
– Ih, verdade, olha só!
– E ela foi construída há mais de 100 anos, acredita?
– Nossa, tia e tem gente morando nela?
– Não, não tem não
– Ahh.. você ouviu só João? Mais de 100 anos, caramba!
O menino continua olhando para a casa com o mesmo carinho que eu e repetindo “mais de cem anos, uau!”
Aparece uma senhora e eu me levanto para ela se sentar. Fico de pé, próxima à porta.
O João finalmente demonstra sua empolgação com algum dos locais
– Olha, é a BAND! – ele apontou
– É mesmo, você quer descer aí? A gente tá perto do Pacaembu, acho…
– Quero descer, vai que tão fazendo algum programa agora?
Eu me afasto para eles passarem e o mais curioso fala:
– Pode descer primeiro
Eu respondo que não ia descer naquela parada e ele se despede:
– Tá bem, tchau tia, obrigado viu!
“Obrigada você”, pensei eu.
Nunca andar de ônibus foi tão empolgante.
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Carlos Thompson
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Carlos Thompson
Uau digo eu. Muito boa!